Ensino, tecnologia e ação: introdução às metodologias ativas com memes

Uma pesquisa em um buscador como o Google (rastreia seus dados e pesquisas para vendê-los 😥) ou o Duck Duck Go (não comercializa suas pesquisas 😎) identifica mais de 3,5 milhões de resultados para a chave “Metodologias Ativas”. Como achar uma boa resposta nesse oceano de informações? Uma saída é consultar um bom dicionário.

me·to·do·lo·gi·a

substantivo feminino
1. Arte de dirigir o espírito na investigação da verdade.
2. Aplicação do método no ensino.
“metodologia”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/metodologia [consultado em 15-10-2020].

a·ti·va

(feminino de ativo) substantivo feminino
1. [Gramática] A voz ativa dos verbos. ≠ PASSIVA
2. [Figurado] Parte principal exercida na realização de um ato.
3. Que exerce ação (ex.: participante .ativo). = DINÂMICO ≠ CONTEMPLATIVO, PASSIVO

4. [Por extensão] Que opera com rapidez.
“ativa”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/ativa [consultado em 15-10-2020].

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Hmmm, tem haver com método de ensino e uma postura dinâmica e ativa… Mas, ainda não entendi bem, preciso investigar mais!

Vale então uma pesquisada também na colaborativa, incrível, opensource, mais copiada pelos estudantes e salvadora dos que tem quase qualquer dúvida, a Wikipédia:

Metodologia ativa de aprendizagem é um processo amplo e possui como principal característica a inserção do aluno/estudante como agente principal responsável pela sua aprendizagem, comprometendo-se com seu aprendizado […]. O processo de educar, devido a múltiplos fatores (como a rapidez na produção de conhecimento, a provisoriedade das verdades construídas no saber científico e, principalmente, da facilidade de acesso à vasta gama de informação) deixou de ser baseado na mera transmissão de conhecimentos. Nesse contexto as metodologias ativas surgem como proposta para focar o processo de ensinar e aprender na busca da participação ativa de todos os envolvidos, centrados na realidade em que estão inseridos. As metodologias ativas “têm se destacado refletindo sobre o papel do professor e do aluno no processo de ensino e aprendizagem, buscando provocar mudanças nas práticas em sala de aula que estão, por muitas vezes, enraizadas no modelo tradicional de ensino

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Metodologia_ativa

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Com uma lida e uma relida deu para entender: são metodologias de ensino que focam em um papel ativo do aluno no seu próprio aprendizado. Nesse sentido, se distancia da ideia do aluno como mero receptor do conhecimento distribuído pelo seu professor.

Você pode agora está se perguntando: para que criar um conjunto de metodologias que mexem na relação de ensino e aprendizagem. Nossa cabeça está geralmente imbuída no ambiente escolar tradicional, na imagem quase sacra do professor que dita ou escreve no quadro e assim ilumina a cabeça do estudante com a chama de novas ideias. Uma voltinha na Wikipédia nos informa que a palavra aluno vem do latim alumini – aquele que precisa ser alimentado. A ideia da escola tradicional é antiga, certamente não tanto como o idioma falado na Roma Antiga, mas isso é outra história.

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O certo é que esse modelo de ensino foi pensando em um outro tempo, com relações sociais, políticas e econômicas distintas das que temos hoje. Para ficar em um único exemplo, pense que você está lendo um livro que não existe em papel e que foi escrito virtualmente a partir de notebook e enviado por fibra ótica e rede sem fio por cabos submarinos e satélites artificiais que orbitam ao redor da Terra para algum servidor e que depois ele fez o caminho inverso para estar aqui na tela do seu celular ou computador em frações de segundo. Isso é fruto de uma transformação tecnológica e informacional que atinge praticamente todos os aspectos da vida humana, incluindo a educação.

Uma chave de leitura é pensar na incompatibilidade entre a realidade dos alunos e do mundo hoje e as práticas tradicionais de ensino que muitas vezes enfrentamos como docentes e discentes. Especialistas no assunto – como o professor José Moran (2015) – afirmam que, diante desse cenário, a saída para as escolas é escolher entre dois caminhos de mudança. Um mais leve em que se mantêm o modelo disciplinar e se começama adotar práticas que deem protagonismo ao aluno, outro é mais radical e passa pelo redesenho dos currículos, disciplinas, espaços físicos e práticas escolares. Seja qual a opção adotada, as duas estradas são pavimentadas pelas metodologias ativas.

As metodologias ativas não são escritas no plural por acaso, há uma miríade de estratégias e aplicações diversas utilizadas por professores e estudantes do mundo todo. Algumas das possibilidades mais conhecidas são:

(Clique se quiser saber um pouco mais sobre alguma delas)

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As possibilidades são diversas e podem ser combinadas de acordo com a estratégia montada pelo educador. Um ponto em comum entre elas é a mudança no papel tradicional do professor e do aluno. Algumas diferenças relevantes:

Aluno

  • Protagonista do seu aprendizado
  • Cogestor do seu tempo e percurso
  • Deixa a função de “copista” para ser também um criador de conteúdos
  • Papel ativo de seleção de estratégias de aprendizagem

Professor

  • Curador que escolhe o que é relevante no meio de tanta informação e ajuda os alunos a encontrar sentido no mosaico de materiais e atividades
  • Orientador que apoia, acolhe, estimula, valoriza e inspira os alunos
  • Um designer de caminhos para os alunos, entre atividades individuais e em grupos
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VIU COMO ESSES PAPÉIS SÃO DIFERENTES DO MODELO TRADICIONAL?

Por que unir tecnologias e metodologias ativas? Como visto, metodologias ativas não são o mesmo que o uso educacional de inovações tecnológicas. Sabemos que o celulares e computadores vem se tornando cada vez mais relevantes para nossa sociedade e nesses tempos de pandemia, assistimos as telas e o mundo digital se tornarem vitais para os mais diversos campos. Um deles foi o da educação e ai é que está o X da questão: as metodologias ativas permitem uma relação mais harmoniosa e produtiva entre essas tecnologias e o ensino. As novas mídias e instrumentos de comunicação amplificam o poder de estratégias ativas de ensino e aprendizagem. Retorne aos cinco exemplos de metodologias apresentados na sessão anterior. Perceba que todas elas podem ser aplicadas utilizando internet. Sendo mais realista, boa parte dos projetos que você encontra por ai de, por exemplo, gamificação e ensino híbrido, se valem do suporte da internet e equipamentos eletrônicos conectados a ela. Essas tecnologias permitem a realização de pesquisas, a produção de textos, materiais audiovisuais e códigos de programação, contato e comunicação com agentes, recursos e espaços para além dos disponíveis fisicamente ao estudante. Abrem um leque de possibilidades para um aluno com papel ativo. Segundo Moran (2015):

As tecnologias permitem o registro, a visibilização do processo de aprendizagem de cada um e de todos os envolvidos. Mapeiam os progressos, apontam as dificuldades, podem prever alguns caminhos para os que têm dificuldades específicas (plataformas adaptativas). Elas facilitam como nunca antes múltiplas formas de comunicação horizontal, em redes, em grupos, individualizada. É fácil o compartilhamento, a coautoria, a publicação, produzir e divulgar narrativas diferentes. A combinação dos ambientes mais formais com os informais (redes sociais, wikis, blogs), feita de forma inteligente e integrada, nos permite conciliar a necessária organização dos processos com a flexibilidade de poder adaptá-los à cada aluno e grupo

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🤓 Pronto, agora você já sabe o básico sobre a relação entre metodologias ativas e tecnologias digitais. Abaixo estão os textos consultados para produzir este e-book, para abri-los é só clicar nos links.

Para saber mais:

Este texto utiliza amplamente a linguagem dos memes. Quer saber o que é isso ou entendê-los melhor? Acesse o Museu dos Memes (UFF) clicando aqui.Ele foi produzido como uma atividade do curso de Metodologias Ativas do CERES/UFRN.

BEHRENS, Marilda Aparecida. Metodologia de Projetos: Aprender e ensinar para a produção do conhecimento numa visão complexa. Coleção Agrinho, 95. Disponível em: http://www.agrinho.com.br/site/wp-content/uploads/2014/09/2_04_Metodologia-de-projetos.pdf
BLIKSTEIN, Paulo. Viagens em Troia com Freire: a tecnologia como um agente de emancipação. Educ. Pesqui. 2016, vol. 42, n. 3. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1517-970220164203003.
MORAN, José. Mudando a educação com metodologias ativas. In: MORALES; SOUZA (org.). . Convergências Midiáticas, Educação e Cidadania: aproximações jovens. Coleção Mídias Contemporâneas Vol. II. Ponta Grossa: Foca Foto-PROEX/UEPG, 2015. Disponível em: https://mundonativodigital.files.wordpress.com/2015/06/mudando_moran.pdf
SPINOSA, Vanessa. Há Futuro para o Passado? Experiência Interdisciplinar com TDICs no Ensino Superior. ANAIS do III Congresso sobre Tecnologias na Educação. Fortaleza, 2018. Disponível em: http://ceur-ws.org/Vol-2185/CtrlE_2018_paper_43.pdf
VALENTE, José Armando. ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de. GERALDINI, Alexandra Fogli Serpa. Metodologias ativas: das concepções às práticas em distintos níveis de ensino. Rev. Diálogo Educ. v. 17, n. 52, abr./jun. 2017. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/1891/189154955008.pdf

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